UMA HISTÓRIA DE CARNAVAL

Com os preços dos pacotes turísticos nas alturas , o jovem casal resolveu passar o carnaval em casa, no Rio.
– Você quer sair em algum bloco?
– Não, benzinho, eu prefiro ficar aqui em casa com você.
– Eu também, amor! – o rapaz concordou e os dois se beijaram ternamente.
O casal passou o sábado de carnaval em casa , vendo TV. No domingo de manhã, o rapaz acordou cedo e resolveu fazer uma surpresa para a mulherzinha. Saiu de casa para comprar um café da manhã especial para os dois. Deixou um bilhete , dizendo que voltava logo. O que ele não sabia era que, exatamente naquele instante, um bloco passava bem em frente do seu prédio. O rapaz resolveu arriscar assim mesmo. Saiu andando pelo cantinho, se desviando dos foliões. De vez em quando algum folião mais animado se aproximava e tentava levá-lo para dentro do bloco , mas ele explicava a sua condição de não folião. Quando já estava chegando na padaria, o rapaz sentiu duas mãos na cintura. Tentou se desvencilhar, mas o dono das mãos o empurrava para frente. Só quando olhou para trás para ver quem era a pessoa que o empurrava, se deu conta de que ele era a locomotiva de um trenzinho de rapazes e moças animadíssimos , que seguiu em velocidade para dentro do bloco. Não adiantou ele gritar que não estava no bloco, esbravejar sua condição de não-folião, o trenzinho saiu arrastando o coitado. Depois de algum tempo, o não-folião conseguiu finalmente dar uma guinada e se libertar do trenzinho , mas com a velocidade em que vinha , acabou sendo jogado em cima de três travestis, que o acolheram. Os travecos acharam que ele era alguma espécie de prêmio e o trataram com muito carinho. Encheram o rapaz de beijos, deixando-o cheio de marcas de batom. Quatro rapazes sem camisa viram o espetáculo e livraram o não-folião do assédio dos travestis. Um dos rapazes colocou um funil em sua boca e outro rapaz despejou uma garrafa de vodca
– Bebe! Bebe pra esquecer!
Depois de consumir quase meio litro da garrafa o não-folião conseguiu se livrar do funil e cuspir uma boa quantidade da bebida. Os rapazes consideraram uma falta de educação, afinal estavam oferecendo bebida de graça e o largaram no chão. Uma moça muito bonitinha ficou com dó dele e o acudiu, levantou o rapaz e deu uma água para ele beber. Logo o namorado ciumento da moça , um brutamontes que estava procurando por ela desde a concentração do bloco a encontrou. E achou que o não-folião era a causa do sumiço da namorada. O não-folião ficou assistindo uma discussão entre os namorados. A mocinha muito bonitinha não deixava o namorado bater no não-folião, mas isso não durou muito tempo, pois logo um amigo do grandalhão ciumento, num ato de solidariedade masculina , soltou um direto na boca do não-folião que caiu estatelado no chão. Logo foi acudido por um senhor cabeludo fantasiado de Carmen Miranda, que no intuito de estancar o sangue que saia do nariz do não-folião, tacou uma toalha em seu nariz. O não-folião ficou meio zonzo , conseguiu afastar a toalha do nariz e perguntou:
– O que tem nessa toalha? Álcool?
– Tem álcool também! É cheirinho da loló.
Completamente zureta o não-folião conseguiu se levantar e afastar o Carmen Miranda que insistia em lhe dar mais cheirinho da loló. O não folião, apesar de completamente torto, conseguiu se arrastar de volta para casa. Afora o celular que foi roubado no caminho, mais nada aconteceu a ele, que finalmente chegou em casa. Procurou pelas chaves da portaria, que obviamente ficaram pelo caminho. Tocou o interfone , mas a mulherzinha não atendeu. Ele insistiu por mais uns dez minutos , mas nada. Quando já estava ficando preocupado, eis que surge a sua mulherzinha vindo de dentro do bloco. Ela parecia mais para lá do que pra cá, com as roupas amarfanhadas , o sutiã amarrado na cabeça e apenas um sapato no pé. Enfim, a amada estava num estado muito parecido com o do não folião.
– Você estava demorando e eu fui atrás de você – ela disse.
Ele achou melhor não perguntar o que aconteceu com ela e ela também não perguntou nada a ele. Passaram o resto da tarde vendo DVDs em casa.

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1 Comment

  1. emanoel março 6, 2014 at 12:04 am

    Ha se todo final de historia fosse assim entre marido e mulher… gostei

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