LEMBRANÇAS SEM SENTIDO

Toda vez que eu passo pela linha Vermelha, em direção ao túnel Rebouças, passo por um conjunto de prédios e sempre me lembro de um sujeito que serviu comigo no CPOR que no primeiro dia conversou comigo e disse que morava ali. Quase não falei mais com o cara no resto do ano e não lembro o nome dele. E sempre que passo por aqueles prédios e tenho essa lembrança eu me pergunto: Pra que lembrar desse fato que aconteceu há tanto tempo?
—–
Enquanto isso, lá dentro do meu cérebro…
– Ahn, até que enfim te encontrei!
– Quem é você?
– Eu sou o “neurônio fiscal das lembranças sem sentido”. Estou te procurando há anos!
– Mas o que que eu fiz?
– Nada. Exatamente por isso eu estou te procurando. Você está há mais de 40 anos guardando uma lembrança que não tem a menor importância. Ocupando espaço de memórias mais relevantes.
– Eu acho essa lembrança legal. Eu estou só cumprindo o meu papel, sou o neurônio que lembra que quando o Beto serviu o exército, ele conheceu um sujeito que morava naquele prédio.
– Mas o Beto nem ficou amigo do cara! Eles só conversaram no primeiro dia, depois mal se viram! Para que você está guardando isso?
– Ah, é legal lembrar dos tempos de CPOR.
– Legal nada! Ele não gostou de servir o exército. Perdeu um ano da faculdade!
– Então é bom lembrar que nem tudo é legal na vida e…
– Pode parar! Eu sei muito bem que você está aqui se escondendo há décadas, vivendo no bem bom, guardando essa lembrancinha sem sentido e gastando energia à toa! Pode esquecer isso. Trata de guardar outra lembrança! Vamos trabalhar!
– Tá, mas é que eu já estou apegado a essa lembrança…
– Não interessa! Esquece esse negócio! Ou lembra outra coisa, ou então eu vou te desligar!
—–
Ontem eu passei de novo na linha Vermelha e me lembrei de novo desse meu colega de CPOR. Acho que o “neurônio fiscal de lembranças sem sentido” não se lembrou de desligar o tal neurônio que guarda essa memória. Mas, pensando bem, fiscalização no Brasil nunca funcionou, não seria dentro do meu cérebro que iria funcionar!

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