MEMÓRIAS – MAÇARANDUBA E O DIÁRIO DE UM MACHO

Quando o Casseta & Planeta passou a ser semanal, em 1998, precisamos dar várias mexidas no jeito de fazer o programa. Enquanto ele era semanal baseávamos o programa em matérias pseudo-jornalísticas, muitas viagens, muitas visitas a eventos para entrevistar pessoas, agora com programa indo ao ar todas as semanas não teríamos tempo para sair tanto do estúdio. Se por um lado ganhávamos as atualidades como matéria prima para piadas, por outro lado não era toda semana que aconteciam coisas interessantes no país. Portanto precisávamos ter um cardápio de matérias mais extenso e que não necessitassem que saíssemos tanto do estúdio para gravar. E uma das saídas que pensamos foi criar quadros fixos com personagens, que seriam escritos e gravados com antecedência e que pudessem ir ao ar em qualquer programa.
Criar um bom personagem é um desafio complicado. Fazer o personagem pegar é ainda mais difícil. Um dos primeiros quadros fixos que criamos veio de um esquete que encenamos quando o programa ainda era mensal. Foi baseado num texto antigo publicado na edição número 3 da Casseta Popular. O texto original se chamava “Tem que malhar” e contava a história de um jiujuteiro que invadia uma festinha de quinze anos e dava porrada em todo mundo. Satirizava uma galera boçal que frequentava academias de lutas e que gostava de viver dando porrada em todo mundo. Na nossa versão para TV, criamos dois personagens que lutavam jiu-jitsu e resolviam tudo na base da porrada. Tudo era motivo para eles porrarem alguém, principalmente se duvidassem da masculinidade deles, o que os dois achavam que estava acontecendo toda hora. Os personagens eram o Carlos Maçaranduba e o Ulson Montanha e o quadro se chamou “O diário de um macho”. O nome Carlos Maçaranduba veio de um personagem do Planeta Diário, onde Carlos Maçaranduba era o Fodão do Bairro Peixoto. “O diário de um macho” começava sempre de uma maneira fofa, com a narração em off do Maçaranduba dizendo: “Querido diário”. E a partir daí ele narrava as boçalidades que ele e o seu companheiro Montanha aprontavam.
Quem foi escalado para fazer o Maçaranduba foi o Claudio Manoel e o Montanha, inicialmente, no esquete do programa mensal, foi o Madureira. Mas quando o quadro virou fixo, já no programa semanal, o Montanha coube ao Bussunda.
Maçaranduba ainda tinha um cachorro, um pitbull obviamente, que mordia todo mundo, e que se chamava Sadam.
O primeiro episódio do Diário de um macho no Casseta & Planeta semanal fez muito sucesso, principalmente quando a qualquer pretexto o Maçaranduba falava:
– Ele está obviamente duvidando da nossa masculinidade.
Então lá vinha o bordão do Maçaranduba:
– Vou dar… porrada! – Que Claudio falava com a boca torta de maneira hilária.
Um detalhe: esse bordão não estava no texto. Em um determinado momento durante a gravação viu-se a necessidade de um bordão e o Claudio lançou o “Vou dar… porrada!”
Além deste bordão, que pegou, vários detalhes ajudaram o quadro a funcionar. Além do texto, que era engraçado, o Claudio e o Bussunda foram muito felizes ao “montar” os dois personagens. E aí veio um lado lúdico do quadro, contribuição do nosso diretor José Lavigne: Na hora de dar porrada, Maçaranduba e Montanha batiam em bonecos de pano, que voavam pelo cenário. Não havia nenhum disfarce, todo mundo via que eram bonecos de pano. O cachorrinho Sadam também era um boneco de espuma, o que ainda ajudava ainda mais a dar um ar infantil ao quadro, por incrível que pareça.
O Diário de um macho com o Maçaranduba foi o primeiro quadro fixo que fez muito sucesso. Depois vieram vários outros.

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