Blog

É SÓ UM PROBLEMINHA

Eu morro de medo de diminutivos.
Aqui no Brasil, se o cara mete um “inho” ou “inha”, pode ter certeza que você está na merda.
É coisa de brasileiro, que acha que se colocar diminutivo nas palavras, elas amansam, perdem a força e o problema está resolvido.
Aqui não existe problemão, é tudo só um probleminha.
E eu tenho pavor de probleminhas.
Se é só um probleminha, para que fazer alguma coisa? Deixa rolar, que vai passar.
Se vai demorar um instante, tudo bem, mas se é só um instantinho, ferrou!
Se o produto é caro, ok, mas se é carinho pode ir abaixando as calças.
Se você chega na porta do restaurante lotado e pergunta ao porteiro quanto tempo vai demorar e ele diz: “Ah, é rapidinho!”, é melhor tentar outro restaurante para não morrer de fome.
Dez minutinhos demora infinitamente mais do que dez minutos.
Quilinhos são muito mais pesados do que quilos.
O bebum que vai tomar só uma cachacinha é um sério candidato a uma Perda Total.
Se é só uma dívida, dá para pagar, mas se é uma dividazinha provavelmente será impagável.
Se o médico disser que você vai sentir só uma dorzinha, se prepara para se entupir de analgésicos.
Quando o ministro da economia anuncia uma inflaçãozinha é hora de cortar custos porque o bicho vai pegar.
O Brasil é cheio de diminutivos. E eu cada vez mais odeio eles.
Pudemos ver o poder do diminutivo na sua plenitude quando Bolsonaro chamou a covid de gripezinha.
E o pior é lembrar que o mandato dele dura só mais dois aninhos.

EMPRÉSTIMO CONSIGNADO

No ano passado eu me aposentei pelo INSS. E a minha vida mudou a partir desse momento. É claro que não mudou por conta da grana que passei a receber. O que mudou foi que, um dia após a minha aposentaria, o meu celular começou a tocar sem parar. De cinco em cinco minutos eu recebia uma ligação. Eram chamadas dos quatro cantos do Brasil, do Rio, de São Paulo, de Ribeirão Preto, Vitória, Brasília, Belo Horizonte, do raio que o parta! E todas elas tinham o mesmo conteúdo: uma oferta de um empréstimo consignado.
Quando a pessoa se aposenta no Brasil, ela tem direito a pegar no banco um empréstimo consignado, ou seja, um empréstimo com juros mais baixos e que o banco pode descontar do salário do aposentado. Um ótimo negócio para o banco, que tem a garantia de que o empréstimo vai ser pago. Para o aposentado só é bom no caso de ele estar precisando muito de dinheiro, é melhor do que o empréstimo normal ou de um agiota. Mas “juros baixos” no Brasil é como “saci Pererê”, “curupira” ou “mula sem cabeça”, ou seja, mais um mito do folclore brasileiro. Os juros baixos no Brasil deviam se chamar “juros não altos pra cacete” ou “juros um pouco menos extorsivos”.
As moças e rapazes simpáticos que me ligavam com sotaques do Brasil inteiro, me ofereciam com muita simpatia esse empréstimo consignado como uma oferta incrível e irrecusável. Mas eu recusei todas elas. E assim que eu dizia que não achava a oferta incrível e que não estava interessado, as moças e rapazes desligavam rapidamente. Tinham que partir para o próximo. Há que cumprir a cota.
Logo, as chamadas se multiplicaram e em pouco tempo não eram mais só para o meu celular, mas vinham também para o telefone fixo, o celular da minha mulher, do meu filho, da minha filha. Perturbaram a todos.
Eu não entendo como os bancos conseguem essa informação de que você se aposentou e acesso a todos os seus telefones e também de pessoas próximas. Provavelmente no site do INSS, que, pelo jeito, libera geral essas informações. Liguei para o INSS, mas eles disseram que não podem fazer nada. Depois de um tempo descobri um site chamado “Não me perturbe” e me cadastrei lá. Só no Brasil um site desse tipo é necessário, se juntando a outros serviços como os tipicamente brasileiros despachantes. As ligações pararam um pouco por um tempo, mas logo voltaram com força.
Pois é, hoje o meu celular está praticamente inutilizado para ligações de pessoas que não me conhecem direito. Tirei o som para o aparelho não ficar tocando o dia inteiro e não atendo mais a desconhecidos. Devo ter perdido várias ofertas irrecusáveis da OI e convites para roubadas imperdíveis.

PAÍS ENCALHADO

Aos negacionistas e cloroquinistas:
Vão empurrar navio no canal de Suez!

Aliás, o navio já desencalhou no Canal de Suez. Mas o Brasil continua encalhado!

Brasileiro devia ser bom em matemática. Já aprendeu um dos conceitos mais difíceis da matéria: a função exponencial. A gente já experimentou isso na pele na hiperinflação e agora estamos vivendo na prática o aumento exponencial da Covid. Exponencial é mole, pode passar para a próxima questão!

Tenho trabalhado bastante em home-office. Como lavador de pratos.

Há tanto tempo eu só ando de sandália, que acho que desaprendi a dar laço no tênis.

As coisas estão tão difíceis no Brasil que até a letra da música do Belchior teve que ser alterada:
“Ano passado eu não morri
E esse ano eu espero não morrer de novo!”

PERDIDO EM BRASÍLIA

Enquanto isso em Brasília, um bolsominion está no seu carro rodando há horas. Perdido, ele pede informação para um outro motorista:
– Amigo, por favor, como eu faço para chegar no Palácio do Planalto?
– Ah, é fácil. É só pegar a próxima a esquerda…
– Tá doido? A esquerda não dá. Eu estou indo encontrar com o mito, pô! Não dá pra pegar a direita?
– Não dá. A direita vai dar em outro lugar.
– E se eu seguir em frente?
– Ah, você quer uma terceira via?
– Não! Terceira via de jeito nenhum!
– Então eu não sei te informar.
– Tudo bem. Acho que eu vou perguntar no Posto Ipiranga.
– Se eu fosse você eu não ia não. O Posto Ipiranga não tá mais sabendo informar nada!

ESTRESSADO E REVOLTADO

Quando vi o crescimento da Covid sem que o governo fizesse nada, fiquei estressado e nervoso, ou dos dois juntos, mas, as pessoas me falaram: Calma!
Quando ouvi as notícias sobre as mortes por Covid aumentando exponencialmente, e o Bolsonaro falando de cloroquina, eu fiquei estressado, nervoso e irritado, ou os três juntos. Mas algumas pessoas continuaram me falando: Calma!
Quando eu assisti as lives cheias de ódio e fake-news do Bolsonaro, falando contra a máscara e o distanciamento social e prescrevendo tratamento precoce, eu fiquei estressado, nervoso, irritado e puto, ou os quatro juntos. Mas duas pessoas ainda me falaram: Calma!
Então eu acompanhei a demissão do ex-ministro Pesadello que demorou mais de uma semana para sair, dando lugar a um novo ministro que assumiu no dia com mais de 3 mil mortes pela Covid, falando em continuidade do trabalho. Aí eu fiquei estressado, nervoso, irritado, puto e revoltado, ou os cinco juntos. Mas um amigo, um cara meio distante, ainda me falou: Calma!
Então eu assisti ao pronunciamento do presidente, mentindo deslavadamente com a maior cara de pau sobre as vacinas, dizendo que sempre foi a favor delas, como se não tivesse chamado elas de vachina ou dito que não queria virar jacaré. Aí eu fiquei estressado, nervoso, irritado, puto, revoltado e puto. Eu sei que repeti que fiquei puto, mas é que fiquei muito puto. E não me venham falar pra ficar calmo que eu não vou ficar calmo porra nenhuma! Calma é o cacete!
Acho que até o jacaré do Bolsonaro ficou puto.

PESADELLO NO BBB

O Bolsonaro ainda não arranjou uma vaga para o Eduardo Pesadello. O presidente quer dar uma força para o seu ex-ministro e já pensou em vários cargos, mas ainda não se decidiu. Uma de suas opções foi tentar fazer o ex-ministro entrar na casa do BBB, já que é um dos únicos lugares onde não se fala em covid, coronavírus, pandemia, esses assuntos que chateiam o ex-ministro. Mas para a entrada do Pesadello no BBB, o presidente fez algumas exigências:
– Que o Pesadello nunca, em nenhuma hipótese, tivesse que imunizar alguém.
– Mesmo sem o Dória estar na casa, que o ex-ministro pudesse sempre indicá-lo para o paredão.
– Bolsonaro ameaçou chamar o Exército, caso o seu ex-ministro fosse o mais votado no paredão.
– Pesadello poderia indicar cloroquina e invermectina para os outros brothers como remédio para se escapar do paredão.
– Que Pesadello não participasse da prova do anjo, porque bolsominion que se preza não fica usando asinhas nas costas.
– Que Thiago Leifert fosse demitido e em seu lugar fosse escolhido um general.
– Se algum brother por acaso falasse mal do presidente, que fosse direto para o paredão, de acordo com a Lei de Segurança Nacional.
– Pesadello só participaria do jogo da discórdia se nenhuma pergunta fosse feita a ele.
– As festas do Pesadello seriam festas cívico-militares.
– O ex-ministro não poderia ser chamado de monstro, mesmo se ele fosse escolhido para ser o monstro.
A negociação está difícil e parece que vão ter que arrumar um outro lugar para o ex-ministro se esconder.

MAIS CHATA É A PANDEMIA!

A máscara no queixo é uma instituição que a pandemia consagrou no Brasil. O sujeito sai de casa com a máscara porque é obrigado a isso, mas enquanto ninguém reclama, nenhum fiscal aparece ou um chato qualquer vem pedir para ele colocar a máscara sobre o nariz e a boca, ele a deixa lá no queixo. E por que ele deixa no queixo e não a coloca no bolso? Porque o cara é esperto e avalia que com a máscara no queixo fica mais fácil de suspendê-la rapidamente quando alguma autoridade, fiscal ou chato aparecer. “Calma, eu estou de máscara!”, ele se defende. A ideia de que se usa máscara para se proteger e proteger os outros não tem a menor importância.
Pois eu sou um destes chatos que pede para puxar a máscara do queixo para cima! A pandemia me transformou no chato da máscara. Eu reclamo mesmo! E aguento a cara feia.
Sou o chato que grita para os sem máscara colocarem máscara.
Sou o chato que pede mais vacina.
Sou o chato que quer lockdown.
Sou o chato que não deixa ninguém mais entrar no elevador comigo.
Sou o chato que odeia aglomeração.
Sou o chato do álcool gel.
Sou o chato que discute com negacionistas.
Sou o chato que reclamava do Pesadello e reclama do novo ministro de continuidade.
Sou o chato que acha o que o presidente é um genocida e pequi roído.
Sou o chato que acha que todo mundo devia ser mais chato porque mais chata é essa porra dessa pandemia!

PESADELLO

Toda hora vem à tona a discussão sobre o Brasil virar a Venezuela. Tem gente dizendo que o Bolsonaro quer fazer exatamente o que o Chaves fez na Venezuela e outros dizendo que quem vai fazer isso é o Lula, se ganhar.
Mas eu não tenho medo de o Brasil virar Venezuela, acho que o perigo é outro.
O meu medo é o Brasil virar a Coreia do Norte!
Calma, não vamos virar comunistas!
Mas seguindo nessa política de não combater o coronavírus, de não fazer lockdown, não usar máscara, de permitir aglomeração e festa clandestina a vontade em todos os lugares, podemos tomar o posto do país do Kim Jong-Un, e nos tornarmos o país mais isolado do mundo!
Hoje em dia já não podemos ir para quase nenhum país, mas isso ainda é provisório. Seguindo no ritmo que dita o nosso presidente, daqui a pouco a proibição de receber brasileiros vai virar definitiva. Vai ser pra sempre!
O passaporte brasileiro não vai valer nada!
Ficaremos mais isolados que a Coreia do Norte!
Quando chegarmos na fronteira de um país qualquer, e o agente policial perceber que o passaporte é aquele escrito Brasil na capa, ele não vai só barrar a nossa entrada, vai apertar um botão de alarme, uma sirene vai começar a tocar, o aeroporto será isolado e um exército de fiscais sanitários vai aparecer para nos dar um banho de álcool, água sanitária, gasolina, querosene e soda cáustica, depois vão nos empacotar com três camadas de papel pardo bem grosso, colocar plástico bolha em volta e nos mandar de volta pro nosso celeiro de novas cepas de coronavírus.
Tá bom, isso pode ser só uma loucura da minha imaginação, pode ser apenas um pesadelo. Mas Pesadello era como era chamado o nosso ministro da Saúde e o que entrou no lugar dele, disse que seu objetivo é dar continuidade ao Pesadello. Ou ao pesadelo.

CORNOGRAMA DE VACILAÇÃO

Quase todo dia o ministério da Saúde lança um novo cronograma de vacinação, e sempre ele vem para substituir o anterior, diminuindo o número de doses previsto.
Tem gente que chama de Cronograma de Vacilação.
O Cronograma de Vacilação do Ministério da Saúde é sempre tão enganado que também já está sendo conhecido como Cornograma de Vacilação.
O ex-ministro Eduardo Pesadello não tinha a menor ideia de quantas doses estavam disponíveis e aí saía chutando direto. Um dos seus últimos Cornogramas previa o seguinte:

Até o final de março teremos…
20 milhões de doses daquela vacina chinesa lá do Doria que o chefe não gosta.
3 milhões da astragênica… astracênica… aquela lá do instituto Armando Cruz, quer dizer, Orlando Cruz, alguma coisa Cruz.
10 milhões de uma vacina indiana aí, que me disseram que é boa.
10 milhões da vacina russa, que a coisa tá russa e a gente tem que comprar até de comunista.
10 milhões da Pfizer, assim que a gente assinar o contrato que o chefe não quer assinar.
Pra saber o total de doses é só somar isso tudo aí em cima. O que vocês querem? Que o Ministério faça o cálculo? Querem que a gente faça tudo?

E agora temos um novo Ministro da Saúde, que ainda não decoramos o nome e nem sabemos se teremos tempo de decorar. E o pós-Pazuello chegou dizendo que sua gestão será de continuidade.
Então, se ele vai continuar o que estava sendo feito, esparamos que o próximo cornograma venha do mesmo jeito que os anteriores.
Será que seguiremos assim, sem vacina e sem muitas perspectivas?