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HÁ UM ANO
No final do ano de 2019 eu tinha alguns medos.
Tinha medo que o Trump desse um ataque de pelanca e resolvesse apertar o botão vermelho para ver o que acontecia.
Temia que o Kim Jon Un desse a louca e resolvesse mandar uma bomba atômica para ver o que acontecia.
Ou que fosse o Irã que desse a louca e mostrasse ao mundo que tinha bomba atômica e não tinha medo de usá-la.
Tinha medo até de vírus. Mas de vírus de computador. Medo que um ciber-maluco jogasse um monte de vírus nos computadores do mundo e a gente ficasse sem internet pra sempre.
Tinha medo até que os alienígenas resolvessem atacar a Terra. Sempre achei que isso pudesse acontecer.
Mas eu nunca tinha pensado que um vírus pudesse nos fuder. Vírus, tipo vírus mesmo, esses bichinhos que causam virose.
Juro que nunca tinha pensado nessa hipótese.
Pois não é que apareceu o tal do coronavírus e o mundo virou de cabeça pra baixo. Parou tudo.
E logo aprendemos um monte de palavras novas: além de corona vírus, teve também covid-19, Cloroquina, Hidroxicloroquina, Invermectina, Astrazenica, Coronavac… Há um ano nós nunca tínhamos escutado essas palavras e nem sabíamos como se pronunciavam.
Protocolo era só aquele número enorme que a gente fingia que anotava quando fazia uma reclamação por telefone. Em 2020 , tudo passou a ter protocolo e a gente incorporou a palavra.
Máscara no queixo era uma expressão que não fazia o menor sentido. É claro que sempre falamos de máscara e de queixo, mas as duas palavras juntas, só em 2020.
Distanciamento social. Até 2020 quem queria distanciamento era antissocial. Em 2020 , quem aglomerava é que era antissocial.
Pois é, há um ano eu fiz planos para 2020. Todo mundo fez. Nunca erramos tão feio!
Agora, no final de ano, véspera de 2021, nem pensar em fazer planos, nada de prognósticos, nada de profecias. É melhor ficar quietinho.
MANIFESTO DE FINAL DE ANO
Às vezes, nessa época do ano os ânimos se exacerbam e as pessoas começam a dar opiniões radicais. Pior, acham que as suas opiniões representam a da maioria das pessoas. A gente vai fingindo que não escuta, vai fugindo do assunto para não precisar discutir, mas tem uma hora que não dá mais para aguentar e a gente tem que se posicionar.
Essa hora chegou pra mim!
Então eu quero deixar bem claro uma coisa: Eu gosto de arroz com passas!
Eu amo arroz com passas!
E tem muita gente além de mim que gosta! Aposto que é a maioria.
Portanto se você é desses caras que não gosta de arroz com passas não tente fazer todo mundo acreditar que você representa a maioria! Cate as suas passas, coloque-as no canto do prato e permaneça calado!
É isso aí!
Falei!
Me sinto aliviado.
A FUGA
EU AJUDO ELE
Quando eu tinha uns vinte e poucos anos, viajando por uma praia do Nordeste de mochila nas costas, entrei num bar e comecei a conversar com dois caras que estavam por ali. O papo estava animado, os caras eram gente boa e então, num dado instante da conversa, eu perguntei a um deles:
– Me diz uma coisa: o que você faz?
– Como assim? – Ele não entendeu.
– É, o que você faz, você trabalha? Estuda?
– Ah! Eu não faço nada não. – O sujeito respondeu na maior tranquilidade.
– Nada ? – Então perguntei ao outro cara. – E você?
– Eu ajudo ele!
Gostei da sinceridade do primeiro e, principalmente, da resposta do segundo.
O tempo passou e outro dia eu estava batendo papo com uns amigos das antigas pelas redes sociais, caras do audiovisual, assim como eu. A gente não se falava há muito tempo e a pandemia nos aproximou. No meio da conversa eu perguntei a um deles:
– Me diz uma coisa: O que você está fazendo?
– Seriados e literatura.
– Que maneiro ! – Me interessei pela atividade do cara e quis ter informações mais específicas. Perguntei:
– E que projetos você está fazendo nessas áreas?
– Vejo seriados e leio livros!
– E você? – Outro amigo me perguntou.
Lembrei-me imediatamente da resposta que recebi tantos anos atrás e respondi, na lata:
– Eu ajudo ele!
É MAIS FÁCIL CONVERSAR COM O CORONGA
Do jeito que as coisas estão, está cada vez mais difícil dialogar com o nosso presidente negacionista. A última dele foi declarar que a pandemia está no finalzinho, mesmo com os hospitais cada vez mais lotados. Então, para que a pandemia do coronavirus termine antes que a pandemia do Bolsonarovirus, o melhor a fazer é tentar outras alternativas, mais heterodoxas. Já que é muito difícil fazer o sujeito entender que a Covid não é gripezinha, que vacina chienesa não é coisa do demo, que distanciamento social é importante, então chegamos a um ponto em que talvez seja mais fácil dialogar com o outro lado. Talvez seja mais promissor explicar a situação ao coronavirus do que ao Bolsossauro. Quem sabe o coronga entenda, vai que ele é mais razoável e racional que o Presidente? De repente a gente pode tentar se aproximar do vírus e jogar uma conversa para ele, tentar convencê-lo de que se ele matar muita gente vai ser pior para ele, que quando uma pessoa morre por covid, os corongas que estão com ele morrem também. Vai que ele percebe a situação e nos ajuda? Acho que um papo com o coronavírus seria muito mais eficaz do que com o presidente ou seus filhos.
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A operação da polícia que achou material inédito do Renato russo se chama Operação Tempo Perdido. Ainda vem que não se chama Operação faroeste Caboclo, senão ia durar uns vinte anos.
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Foi feita uma nova medida da altura do monte Everest. Ele agora mede oficialmente 8.848,86 metros. A altura anterior, 8844 metros, eu até encarava, mas esses 4 metros a mais é que complicaram pra mim.
A REVANCHE
QUANDO VAMOS VACINAR NO BRASIL?
A Inglaterra já começou a vacinar contra a COVID.
Os Estados Unidos vão começar daqui a pouco.
A Europa também.
E o Brasil?
Dizem que vai ser em março…
… se a Anvisa aprovar alguma vacina até lá.
… se o presidente aprovar a aprovação da vacina pela Anvisa.
… se os filhos do presidente aprovarem a aprovação da Anvisa.
… se o ministro da saúde tiver autorização superior para aprovar a aprovação da Anvisa.
… se o Dória não tirar muita onda porque a vacina chinesa foi a primeira a ser autorizada pela Anvisa.
… se os outros governadores decidirem se estão do lado do Dória ou do presidente.
… se o Ministério da Saúde se lembrar de comprar seringas e agulhas.
… se o presidente e seus filhos aprovarem a compra das seringas e das agulhas.
… se o presidente e seus filhos não se importarem, caso a a vacina chinesa seja a primeira aprovada.
… se a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina no Congresso já tiver acabado.
… se a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina no STF já tiver acabado.
… se o STF já tiver julgado alguma ação qualquer que vai surgir tentando mudar a ordem das pessoas que serão vacinadas primeiro.
… se alguma decisão monocrática de algum ministro do STF não suspender a vacinação por algum motivo qualquer.
… se a vacinação não for suspensa enquanto o Congresso não vota uma CPI da vacina qualquer.
… se o Paulo Guedes aprovar a verba para a vacinação.
… se o presidente aprovar a aprovação do Guedes da verba para a vacinação.
… se não for obrigatório acabar com o estoque de cloroquina primeiro.
… se…
… se…
… se…
TÍPICO DE AQUARIO
RESTA UM
Outro dia dei de cara com aquele joguinho Resta Um e fiquei contente. Tantas vezes joguei Resta Um na minha infância e adolescência, até na vida adulta e nunca restou um, sempre sobravam quatro ou três ou dois pininhos, mas nunca um. Aí tive a ideia idiota de consultar o Google e descobri como é que se faz para completar o resta um. Pronto: acabou completamente a graça do brinquedinho! Agora eu já sei como é que se faz para restar um e nunca mais vou jogar Resta Um! Depois de matar a indústria fonográfica, acabar com a vida dos DVDs, deixar a televisão tonta e ferrar com a indústria do cinema, agora a internet acabou com o meu Resta um! Não vai restar um! Vou virar ludista(*)!
(*) não sabe o que é ludista? Procura no Google. Não! Procura num dicionário!