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TERRY CREWS NO CASSETA & PLANETA

Eu estava na aula de inglês, quando o professor, que era irlandês, perguntou aos alunos se alguém já tínha encontrado alguém famoso. Os outras alunos e alunas falaram sobre os seus encontros, mas o professor, por ser irlandês não conhecia muito bem as celebridades citadas, todas brasileiras. Eu fiquei pensando em quem falar, eu já tive contato com um monte de gente famosa, por conta do Casseta & Planeta. Quem eu citaria? Fiquei pensando em personalidades que o professor pudesse conhecer. Lembrei do Deep Purple, meus ídolos eternos, que foram ao programa, mas achei que o professor, por ser bem mais novo que eu, poderia não ser tão fã assim do grupo de rock, então resolvi apontar para outro lado. Quando chegou a minha vez, eu caprichei no inglês e falei:
– Eu já estive com o Terry Crews.
– Sério! O Terry Crews do cinema?
– É, ele mesmo.
O cara ficou doido. Ele era muito fã do Terry Crews. Começou a me fazer perguntas, queria saber tudo, como eu encontrei, o que falamos, tudo! Então eu contei que eu estava na academia de ginástica e o Terry Crews apareceu por lá pra malhar. Ele estava gravando no Brasil, acho que era o Velozes e furiosos. Eu e Helio estávamos jogando pelada no campo da academia e tivemos a ideia de ir lá falar com o cara, convidar ele pra ir no programa. Vai que ele topa? Fomos lá, nos apresentamos, falamos do Casseta & Planeta Urgente, explicamos que tipo de programa era. O cara foi super simpático e adorou a ideia de gravar um quadro no programa. Gente boa demais! E foi verdade, não era caô, ele topou mesmo gravar no Casseta & Planeta. E foi lá no seu dia de folga da filmagem. De graça!

Eu contei isso tudo pro professor, que ficou animadíssimo. Queria saber como foi a gravação.
Aí eu disse que , se ele quisesse assistir a cena, talvez ela estivesse na Internet.
E o danado do professor achou o quadro na Internet. E começou a passar na aula.
Foi então que eu me lembrei qual era o papel que eu fazia no quadro. Eu era uma senhora que estava louca por sexo e subia pelas paredes, literalmente. E chamaram o Terry Crews pra me tirar de lá. O professor ficou animado quando viu o Terry Crews. Eu já havia dito na aula que trabalhava na TV , mas o professor não tinha muita ideia do que eu fazia. Então ele me viu na cena, ele deu um pause e perguntou, meio estupefato:
– Você é essa?

E eu tive que admitir que aquela senhora histérica, que gritava que queria sexo e subia pelas paredes era eu mesmo. Um mico leão dourado em plena aula de inglês! Na verdade, um Golden Lion Little monkey.

MEMÓRIAS : AS NOVELAS DE CASSETA & PLANETA

Desde o início brincamos com a programação da Tv e era natural parodiar as novelas. Começamos a fazê-lo ainda na época do programa mensal, mas as nossas brincadeiras ainda eram curtas, quase sempre apenas chamadas de novela. Quando o programa passou a ser semanal, passamos a escrever capítulos da novela, com três ou quatro cenas parodiando cenas que haviam ido ao ar na novela original. No início não exibíamos o quadro da novela em todos os episódios do programa, apenas de vez em quando. Mas as nossas novelas foram fazendo muito sucesso, começamos a exibir a paródia de duas em duas semanas, até que o capítulo da nossa novela passou a acontecer semanalmente.
A novela era sempre o primeiro quadro do programa, para “colar” com a novela original, quase como se fosse uma continuação. E isso dava uma força muito grande a esse quadro.
Para poder conhecer os personagens e a trama da novela, a gente assistia aos capítulos. E contávamos com a ajuda de uma equipe de pesquisa que toda semana nos mandava um resumo da novela das 9, igual ao que saia nos jornais. A partir dessas informações nós escrevíamos o capítulo. Um dia, depois de já termos parodiado várias novelas, nós estávamos na redação quando chegou o email com a pesquisa da semana, mas dessa vez o resumo da novela não veio. Ao invés do resumo, nós recebemos o roteiro do capítulo que ia ao ar no dia do programa. Inteiro, com todas as cenas. A autora que autorizou mandar o roteiro pra gente foi a Gloria Peres, que era fã da nossa paródia, ela entendeu que a nossa parodia não sacaneava a novela, pelo contrário, era positiva para a novela original. A partir desse momento passamos a receber os roteiros de todas as novelas.
Além de Gloria Perez, quase todos os autores de novelas curtiam o que a gente fazia. Manoel Carlos, Aguinaldo Silva, Gilberto Braga…
A escalação dos papéis nas novelas era feita pelo José Lavigne, o diretor do programa. Nenhum de nós pedia papel e não me lembro de reclamações quanto aos personagens que cada um recebia. Cada um de nós fazia dois a três personagens por novela, masculinos e femininos, uns mais e outros menos importantes. A ideia não era imitar o personagem original, mas fazer uma caricatura, pegar apenas alguns traços e jeitos do personagem e ampliar. E a caracterização ajudava a tornar os nossos personagens parecidos com os originais.
Muitos personagens da nossa novela fizeram muito sucesso. Algumas vezes, quando encontrávamos alguns atores no Projac eles nos cobravam:
– Eu não apareci na novela ontem!
Ou pior:
– Vocês não vão parodiar o meu personagem?

Pois é, as paródias que fazíamos das novelas da 9 foram um dos maiores sucessos do Casseta & Planeta Urgente.
Uma lista das novelas que fizemos:
Porco dourado (Corpo Dourado)
Torre de Papel (Torre de Babel)
Suado moreno (Suave veneno)
Falha Nostra (Terra Nostra)
Esculachos de família (Laços de família)
Porco com vinagres (Porto dos milagres)
Siliclone ( O clone)
Mulheres recauchutadas (Mulheres apaixonadas)
Famosidade (Celebridade)
Sem hora pro intestino (Senhora do destino)
Amerréca (América)
Baleíssima (Belíssima)
Plásticas da vida (Páginas da vida)
Paraíso do bilau (Paraíso tropical)
Suas taras (Duas caras)
A periquita (A favorita)
Com a minha nas índias (No caminho das Índias)
Vim ver artista (Vida de artista)
Viver ardida (Viver a vida)

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MEMÓRIAS: MEUS PERSONAGENS NO CASSETA & PLANETA

Durante os quase vinte anos do programa Casseta & Plaenta Urgente, eu fiz centenas de personagens, de todos os tipos e gêneros.
Certamente o meu personagem, ou minha personagem, que mais fez sucesso foi a Acarajette Lovve, cantora de axé baiana retada, que se achava a melhor cantora de axé do mundo. Do mundo só não! Da Bahia! (Já falei sobre Acarajette aqui, neste post EU JÁ FUI UMA DIVA DO AXÉ…)
Outro personagem que fiz e que, particularmente gosto bastante, foi o Delegado do Fucker e Sucker. O personagem era chamado assim, só de Delegado. Ele era um policial altamente corrupto e cruel, que fazia contraponto aos ingênuos policiais americanos, que eram feitos pelo Hubert e Reinaldo e dublados pelos incríveis… Foi caracterizado como Delegado que eu gravei com o Deep Purple, ídolos demais e quase não consegui segurar a onda para fazer o Delegado, sempre escroto e cruel, eu parecia uma criança diante de seus ídolos.
Um personagem que muita gente lembra até hoje é o Peludão da Sauna Gay. Ele nem era para ser um personagem. Nós escrevemos um quadro sobre um sujeito , o Wanderney, que frequentava uma sauna gay, mas não assumia a sua condição homossexual. O escalado para o papel foi o Hubert. Na hora da gravação, o diretor não achou legal que o Hubert fosse o único dos Casseta a participar do quadro ao lado de vários figurantes e pediu para um outro Casseta participasse também. Eu fui escalado. O personagem não tinha falas, nem nome. Na hora da gravação eu fiquei lá atrás do Hubert, fazendo massagem nos seus ombros, enquanto ele falava:
– Eu só tenho amigos gays, frequento a sauna gay, mas eu não sou gay!
O quadro fez muito sucesso e resolvemos escrever mais. O meu personagem virou fixo e ganhou um nome por conta do meu corpo um tanto cabeludo. Era o Peludão. Aos poucos o Peludão acabou ganhando falas também. O quadro durou muito tempo, e até convidados famosos frequentaram a Sauna Gay.
Na época que fizemos quadros para o Fantástico, cada um de nós personificou um jornalista famoso da Globo. Foi aí que surgiu a Chicória Maria, a Ótima Bernardes, e no meu caso , o Alexandre Gracinha (Alexandre Garcia) , por conta da minha barba, que na época tinha que ser pintada de branco e também a Leilane Beckenbauer (Leilane Neubarth), em que, ao contrário, a minha barba tinha que ser “escondida”.
No Tabajara Futebol Clube ( ver aqui O TABAJARA FUTEBOL CLUBE…), eu era o Wanthuirson, um veterano jogador, ao lado do maravilhoso personagem do Bussunda, o Marrentinho, e do Penico , do Reinaldo, além do Ruizinho, Ruinzinho Gaucho, Samambaia, Múmia, Pirata, do goleiro Águia e da craque do time, a Vaca.
Wanthuirson, um jogador em final de carreira há vários anos, tentava sempre dar o seu ponto de vista e dizia:
– Ouça a voz da experiência…
Mas Marrentinho fazia exatamente o contrário do que ele sugeria.
No inicio do programa, ainda no programa mensal eu fui, junto com o Helio, um dos Bananas de Cueca , uma paródia aos Bananas de Pijamas, cuja música tema era:
Bananas de Cuecas
Sujas, mal lavadas
Bananas de Cuecas
Não arrumam namoradas…
Outra paródia de programa infanti foram os Cassetubbies, uma sátira ao programa Teletubbies, que fazia sucesso com as crianças. Eu o fazia o Cassetubbie Baba.
E nas novelas que parodiamos fiz muitos personagens. Muitas vezes o personagem do Toni Ramos caia na minha mão, pelo mesmo motivo que fui o Peludão. Foram dezenas de personagens de novelas. Uma das que mais arrancou risadas certamente foi a Gema, de Passione, que na novela original era a Araci Balabarian. A nossa novela se chamou Pegassione. Toda vez que alguém falava com a personagem, terminava a frase com o nome dela: Gema.
E então eu atendia o pedido e gemia:
– Ahaaaann!
Devo estar esquecendo de alguns personagens, foram muitos. Fora os personagens fixos, foram centenas, talvez milhares de personagem que participavam de um programa e nunca mais apareciam.
Fui desde um pacato cidadão a prefeitos ou outras autoridades, desde gerentes de banco a assaltantes, desde donas de casa a executivos. Devem ter sido uns 50 policiais diferentes, uns 40 meliantes, uns 150 deputados corruptos e até um deputado honesto. Na verdade agora , pensando aqui, eu não tenho muita certeza se esse último personagem realmente existiu.

MEMÓRIAS : EU JÁ FUI UMA DIVA DO AXÉ

Quando gravava o Casseta & Planeta Urgente, ficar duas horas sentado numa cadeira de maquiagem era algo normal. E quando a personagem era feminina, as horas se multiplicavam. Imagina o trabalho que dá para transformar um cara peludo como eu em algo que se pareça minimamente a uma fêmea? E a personagem feminina que mais fiz no programa e que, portanto, me deixou mais horas sentado numa cadeira de maquiagem foi a Acarajette Lovve, com dois tê e dois vê, a maior cantora de axé do mundo. Do mundo só não. Da Bahia!
Acarajette Lovve foi uma personagem que fez sucesso assim que foi ao ar pela primeira vez. Como a resposta do público era muito boa, achamos que dava para convidar as cantoras baianas para gravar com Acarajette, e, incrível, todas elas toparam. Acarajette gravou com Claudia Leitte, Ivete Sangalo e Daniela Mercury, além de outras cantoras não baianas como Joelma ou roqueiras como Pitty. Acarajette ficava lá xingando as cantoras, dizendo que era mais bonita, mais gostosa e que cantava melhor e elas entravam na brincadeira e respondiam na mesma moeda. Era divertido. Eu curtia bastante.
Quando chamamos Ivete Sangalo para gravar com Acarajette, ela disse que topava, que queria muito gravar com Acarajette, mas a sua agenda estava complicada. Como ficou difícil conciliar uma data para a gravação no Projac, a produtora de Ivete nos fez uma proposta:
– Acarajette topa participar do show da Ivete no Rio de Janeiro?
– No Rio? Claro! – a produção do programa respondeu sem pestanejar. – E em que teatro vai ser o show?
– Não vai ser em teatro não. Vai ser em cima de um trio elétrico.
– Como assim num trio elétrico? Nós não estamos no carnaval.
– A Ivete vai dar um show num trio elétrico no estacionamento do Riocentro. Acarajette topa subir no trio elétrico com ela?
Eu sou um cara tímido, nunca toparia subir num trio elétrico diante milhares de pessoas, mas Acarajette não era tímida e topou na hora.
O dia da gravação chegou. Como não dava para maquiar no Riocentro, a produção marcou comigo no Projac. Fiquei pronto, travestido de Acarajette com umas quatro horas de antecedência. Então, um carro da produção me levou ao Riocentro, e lá no estacionamento encontramos o trio elétrico da Ivete, parado diante de uma multidão.
O palco do trio elétrico normalmente fica em cima da caçamba do caminhão. Chegamos por trás e entramos dentro da caçamba, onde existia um camarim. Ivete já estava lá, preparando-se para o show. Ela me recebeu super bem, muito simpática, senti uma solidariedade de cantoras baianas. Ivete explicou como seria a minha entrada, que horas eu entraria no palco, ou melhor, quando eu subiria no trio. Passei o texto com Ivete.
O show começou e eu fiquei esperando ali embaixo escutando Ivete cantar os seus hits. Até que, com uns quarenta minutos de show, ela me chamou ao palco:
– E agora com vocês, uma convidada muito especial: Acarajette Lovve!
Subi as escadas que davam acesso ao palco na parte de cima do caminhão. Quando cheguei lá e vi a plateia, gelei. Eram mais de vinte mil pessoas. Gente a perder de vista, uma multidão sem fim. Respirei fundo e mandei:
– Boa noite. É uma honra para mim, Acarajette Lovve, estar aqui para ajudar essa cantora iniciante, Claudia leite…
Ivete se fingiu de irritada e me corrigiu:
– Não, Cacarajette! Eu sou Ivete , minha linda.
– Ah, é Ivete seu nome? Desculpa, não conhecia…
Ficamos assim nos provocando por uns cinco minutos, o povo delirando. Até que Ivete resolveu incitar as 20 mil pessoas a gritar o meu nome:
– Acarajette! Acarajette! Acarajette!
E foi aí que aconteceu. Vinte mil pessoas gritando o meu nome. Naquele momento, depois de mais de quatro horas vestido daquele jeito, eu nem me lembrava mais que era o Beto Silva, eu era Acarajette. E estava fazendo o maior sucesso! E sucesso, como todos sabem, sobe à cabeça. Eu sou um cara tranquilo, que sabe onde tem a cabeça, mas Acarajette não. Ela estava completamente deslumbrada, por sua cabeça mil pensamentos rolavam: Será que aquele era o momento de largar o Casseta & Planeta e virar uma cantora baiana de vez? Que tal realizar o sonho do trio elétrico próprio e desfilar pelas ruas de Salvador no carnaval? Já pensou gravar um CD e viajar pelo Brasil fazendo shows em cima do meu personal trio elétrico? Tudo isso passou pela cabeça de Acarajette Lovve em milésimos de segundos. Mas então aconteceu outra coisa: Eu esqueci o texto. Viajando na carreira-solo de cantora de axé, eu não lembrava mais as minhas falas. Fiquei calado, deu uma bobeira geral. Ivete já havia falado à beça, agora cabia a mim responder e nada! O sonho de seguir na carreira de cantora baiana se esvaneceu na velocidade da luz e agora eu só tentava encontrar um texto perdido em algum lugar de meu cérebro. Precisava falar alguma coisa, mas nada vinha! Fiquei nervoso. Comecei a suar frio. Achei até que desmaiaria ali em cima do trio elétrico diante de vinte mil pessoas. Mas Graças a Deus não cheguei a pagar mico naquela noite. Depois de alguns poucos segundo, que para mim pareceram uma eternidade, finalmente achei a fala num neurônio perdido qualquer e gritei:
– Eu sou Acarajette Lovve! A melhor cantora do mundo! Do mundo só não! Da Bahia! Uma cantora que além de cantar muito melhor, tem as pernas mais grossas do que Ivete, que tem só esses cambitinhos ridículos!
Ivete respondeu a altura. Sacaneou Acarajette e dessa vez, pediu uma vaia à plateia, que a atendeu. Sob uma vaia de vinte mil pessoas, eu me despedi do público. A multidão voltou a aplaudir Acarajette e eu sai de cena. Desci as escadas rapidinho e voltei para o camarim na parte de baixo do caminhão. Chegando lá, a primeira coisa que fiz foi arrancar a peruca que já estava apertando a minha cabeça há mais de quatro horas. Peguei um lenço umedecido e tirei a maquiagem. Tirei a roupa da Acarajette, deixei de ser a musa de pernas grossas da Bahia, a sensação loura do carnaval baiano e voltei a ser só aquele cara do Casseta & Planeta. Mas posso dizer que, pelo menos por alguns minutos, em cima de um trio elétrico, ao lado de Ivete Sangalo, eu me senti uma verdadeira diva da axé music!

MEMÓRIAS – AS MELHORES PIADAS DO PLANETA… E DA CASSETA TAMBÉM

O nosso primeiro livro na Objetiva, nossa nova editora, foi a Volta ao mundo de Casseta & Planeta, onde falávamos de países, dicas de viagens, outros povos, por aí. O livro foi muito bem produzido, com várias ilustrações, uma foto de capa muito maneira, mas não vendeu muito bem. Ou pelos menos não vendeu o que se esperava que vendesse. Então um editor da Objetiva chegou para a gente e perguntou: “Por que vocês não fazem um livro de piadas?”
Livro de piadas não era nenhuma novidade, até O Pasquim já havia feito uma antologia de anedotas que fez muito sucesso nos anos 80, mas resolvemos topar o desafio. Saímos recolhendo as piadas que gostávamos. Eu, como editor dos livros do grupo, fui o caçador de piadas mais ferrenho. Comprei até livros americanos de anedotas para garimpar piadas desconhecidas por aqui. Todo dia a galera aparecia com um monte de piadas e contava antes das nossas reuniões de redação. Eu era o principal contador de piadas, já que estava ligado na edição do livro. Só não era chamado de Tiozão da piada, porque acho que a expressão ainda não existia. Mas era uma tarefa profissional, afinal estávamos editando um livro de piadas, era preciso contá-las para poder selecionar as melhores.
As melhores Piadas do planeta… e da casseta também saiu em 1997 e foi um estouro. Rapidamente virou best-seller, ficou em primeiro na lista dos mais vendidos por um ano. Foi de longe o nosso livro que mais vendeu, não sei exatamente qual o número, mas com certeza foram mais de 100 mil exemplares. Em 1998 lançamos o As melhores Piadas do planeta… e da casseta também 2, e nos anos seguintes o 3, o 4 e o 5. Todos venderam bem. O primeiro, supercampeão de vendas, foi relançado em vários formatos: com outra capa, livro de bolso, e-book, áudio-livro, sempre um sucesso.
É claro que muitas piadas que foram publicadas nesses livros lançados no final do século XX, não poderiam ser publicadas no século XXI. Muita coisa mudou, algumas piadas não podem e não devem mais ser contadas. O tempo passa, as coisas avançam, os conceitos mudam, os contextos são outros. Em 2019 , fomos convidados pela UBOOK para relançar o livro em áudio-book, um formato que cresce bastante hoje em dia. Nessa ocasião eu reli os dois primeiros livros de piadas e várias piadas me incomodaram. Não só os tempos mudaram, eu mudei também. Então eu chamei o Helio para me ajudar a editar esse áudio-book. Pegamos o texto original e tiramos todas as piadas que consideramos de mau gosto, anedotas que, para falar a verdade, nem achávamos mais engraçadas. Pois o livro resistiu a essa “limpeza” e continuou muito divertido, fazendo bastante sucesso nessa plataforma de áudio-livros.

Ainda na onda de livros de piadas, em 2002, lançamos As piadinhas do cassetinha, livro de piadas para crianças, que é um dos nossos livros que mais gosto.
E além dos livros de piadas, continuei no meu trabalho de Ministro dos Livros e capitaneei mais algumas obras da literatura “cassetiana e planetiana”, que lançamos também pela Editora Objetiva:
– O avantajado livro dos pensamentos de Casseta & Planeta, que juntava os dois livros de frases num só.
– Relançamos o Manual do sexo manual.
– Seu Creysson, vidia e óbria.
– Seus problemas acabaram – Os melhores produtos das Organizações Tabajara.
– O livro de auto-ajuda Como se dar bem na vida, mesmo sendo um bosta.
– O legítimo livro pirata de Casseta & Planeta. Esse o último que lançamos, em 2007.
Muitos anos depois, em 2018 fomos convidados pelo Eduardo Bueno, o Peninha, para escrevermos um livro de humor que falasse da História do Brasil. Escrevemos o Brasil do Casseta – Nossa História como você nunca riu, lançado pelo selo Estação Brasil da Editora Sextante. Sorteamos os 30 capítulos da História do Brasil e dividimos entre nós para cada um escrever a sua parte. Quer dizer, menos o Reinaldo, que ilustrou o livro com um de seus geniais desenhos para cada capítulo. O livro ficou bem engraçado. Não dá para aprender História do Brasil com ele, mas acho que ele serve para dar vontade de estudar um pouco mais da nossa História e tentar entender como conseguimos chegar até aqui.

MEMÓRIAS – O INÍCIO DA TV PIRATA

Em 1987, eu , Bussunda e Claudio Manoel fomos morar juntos. Nosso apartamento era na rua Von Martius, em frente a sede da TV Globo, mas isso era só um acaso, nem cogitávamos em trabalhar lá. No entanto, em dezembro daquele ano, numa quarta-feira, eu estava em casa me preparando para ir jogar a nossa sagrada pelada, quando o telefone tocou. Era o Claudio Paiva, do Planeta Diário. Ele estava trabalhando na Globo e nos chamou para sermos redatores de um novo programa de humor que assumiria a vaga do programa do Jô Soares, que tinha ido para o SBT. Seria um programa de esquetes todo escrito por uma galera nova. Os atores e atrizes seriam também uma turma nova, que não tinha muita experiência de TV. O programa ia se chamar Tv Pirata.
Animado, parti para a pelada para falar com Claudio, Helio e Bussunda, sabia que eles já estariam lá. Assim que cheguei, contei a novidade. Não me lembro da comemoração, nem pelo convite nem pelos gols que fiz naquele dia.
O Marcelo também foi chamado, mas ele escreveria com o pessoal do Planeta Diário, Hubert e Reinaldo, que também foram convidados para a redação do TV Pirata. Além de nós, do “jornalismo alternativo”, também estavam na redação uma galera que andava bombando no teatro: Pedro Cardoso, Mauro Rasi, Vicente Pereira, Falabela, Patrícia Travassos e outros. Uma redação da pesada.
Eu e Helio trabalhávamos como engenheiros e eu me lembro de falar para Claudio e Bussunda que o salário da Globo deveria compensar a minha saída da Price Waterhouse, senão ia ficar complicado para mim. Claudio e Bussunda foram lá na Globo negociar o contrato. Sentaram em frente ao produtor, que foi logo dizendo que não tinha muita conversa, que o salário era X e que ele não ia negociar. O X já era o valor que eu tinha dito que seria ok para mim, os dois já iam topar, mas demoraram um pouco para responder e o produtor falou: Tá bom, então Y e não se fala mais nisso. Claudio e Bussunda ainda fingiram que não estavam satisfeitos, mas acabaram topando. Na saída da Globo os dois comemoraram muito, o salário era muito mais do que eles imaginaram que seria.
O Helio saiu imediatamente da empresa em que trabalhava. Eu ainda demorei uns dois meses, queria ter certeza de que o meu novo trabalho ia dar certo. Na estreia da TV Pirata eu ainda trabalhava na Price.
Entre vários quadros nossos que entraram no primeiro episódio do TV Pirata, me lembro de uma ideia minha, que me deixou bem orgulhoso. Era um quadro curtinho, algo mais ou menos assim:
Imagens de filme de terror.
Locução – Depois de sexta-feira 13, vem aí…
Imagem de pessoas na praia num dia de sol.
Locução- Sábado, 14. Muito sol, praias e alegria.
Poucos colegas da Price sabiam que eu era redator daquele novo programa, só os mais chegados. Mas o segredo não durou nem uma semana. Logo todo mundo na empresa já sabia daquela minha “vida dupla”. Quando eu falei para o meu patrão que sairia da empresa para ser redator de humor na TV Globo, ele não entendeu nada, ficou perplexo.
Minha nova vida como redator de TV em tempo integral começava ali.

CRISE? QUE CRISE?

SUJEITO 1- Tá quente, né?
SUJEITO 2- Demais. Também depois do que a presidenta falou e da resposta do Cunha, a coisa esquentou e…
SUJEITO 1- Cara, eu tô falando do tempo.
SUJEITO 2- Ah, achei que era da situação política, foi mal.

SUJEITO 1- Cara, desse jeito vai acabar caindo…
SUJEITO 2- Também acho! A Dilma tem que cair!
SUJEITO 3- Não! Impeachment é golpe!
SUJEITO 1- Calma, galera, tô falando do Vasco.
SUJEITOS 2 e 3 – Ah…

SUJEITO 1- Tô preocupado, tá subindo muito.
SUJEITO 2- É, tá foda! O dólar vai chegar a 4!
SUJEITO 3- E a inflação? Os preços sobem a cada hora! Tá foda!
SUJEITO 1- Gente, eu tô falando do meu nível de colesterol.
SUJEITOS 2 e 3- Ah…

Pois é, a crise tá braba mesmo quando qualquer assunto acaba sempre em política ou economia.

Tá assim.