Depois de mais de dois anos sem ir ao cinema por conta da pandemia, resolvi no último domingo a noite retomar esse hábito. Pelo jeito, a pandemia não só afastou as pessoas do cinema, ela expulsou para sempre o público desse entretenimento do século XX.
Eu fui a um desses complexos de cinemas de shopping, com umas 6 ou 7 salas e não havia ninguém por lá. Fiquei até na dúvida se estava aberto. Assim que chegamos na porta, a moça que deveria estar ali para pedir os comprovantes de vacina estava sentada, quase dormindo, numa poltrona a uma certa distancia da entrada. Ela olhou para a gente com uma preguiça danada, parece que havia passado o dia inteiro sentada ali. Se aproximou da gente e pediu os nossos comprovantes. Entramos no complexo e fomos comprar os ingressos em máquinas, a pandemia acabou com as bilheterias também. Na hora de escolher os assentos vi que a sala estava completamente vazia, todos os lugares vagos. Tudo bem que o filme que escolhemos era um filme japonês, Drive my car, nem um pouco popular, mas zero pessoas!
Então fomos comprar pipocas. Os atendentes também demoraram a se levantar de suas cadeiras, os últimos clientes antes de nós pareciam ter sido atendidos há dias. A pipoca também parecia ter sido feita há dias.
Entramos na sala de nosso filme. Algumas pessoas além de nós surgiram, não passaram de umas cinco. A dúvida que eu tinha se deveria ou não usar máscara se dissipou rapidamente, já que a distancia mais próxima de outro espectador era de 15 metros mais ou menos.
Foi assim a nossa primeira sessão de cinema depois de tanto tempo, praticamente um telão particular.
O filme eu achei até interessante, mas muito longo e lento. Me deu saudades do streaming, quando a gente pode se levantar para fazer um xixi e beber uma água, e logo voltar ao filme. Juro que, depois de duas horas de filme, procurei instintivamente o controle remoto para dar um pause, mas tive mesmo que me contorcer mais uma vez na cadeira e seguir em frente.
Na saída do cinema o shopping já estava vazio e deu até medo de ficar num local tão deserto.
É isso, desse jeito, esse negócio não vai durar muito mais tempo. Filme hoje em dia não passa de um seriado que só tem um episódio. Depois a galera reclama que só tem filme merda no Oscar, que só um tapa na cara é capaz de fazer a gente comentar a cerimônia.
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MUDANÇAS NA PANDEMIA
A pandemia ainda não tem data para acabar , mas já dá para constatar que todas as previsões dos especialistas de várias áreas não se cumpriram. O ser humano não ficou mais solidário, nem menos egoísta, continuamos os mesmos, mas algumas coisas que já estavam acontecendo, aceleraram e outras que ninguém pensou, aconteceram:
– Fim dos ferros de passar – Ninguém mais passa as roupas. O ferro de passar em pouco tempo será uma relíquia que ninguém mais vai saber pra que serve.- Dinheiro – Lá fora uso do dinheiro vivo já estava em declínio antes da pandemia, e com as pessoas ficando em casa por conta do vírus, comprando tudo pela internet , as notas de papel foram ainda menos usadas. Só turista brasileiro pagava tudo com dinheiro no exterior e sem brazucas viajando, as notas escassearam de vez. No Brasil o caso é outro , já que aqui, dinheiro vivo em malas ou cuecas parece que nunca vai sair de moda.
– O fim das calças sociais – Com a proliferação de reuniões e encontros virtuais, a necessidade de se colocar calças para acompanhar os ternos e gravatas se tornou completamente desnecessária.
– Moletons – Ao contrário das calças sociais, as calças de moletom entraram em alta, tudo se faz com elas. Não duvido nada que assim que os trabalhos voltarem a ser presenciais, as pessoas continuem a usá-las na parte de baixo, mesmo que super vestidas da cintura para cima.
– Sapatos – Muitas gente desaprendeu a usar sapatos e quando precisou calçar um par de sapatos , ficou cheio de calos, com os pés clamando pela sandália companheira de toda a pandemia.
– Novas palavras – Em toda crise algumas palavras saem das sombras e tomam as ruas. Foi o caso de quarentena, lockdown, live ou cloroquina. E outras que a gente ouvia, acaba tendo um significado diferente. Protocolo antes da pandemia era só aquele número enorme que nos davam quando a gente ligava para pedir algum serviço. Agora o tratamento tem protocolo, o atendimento tem protocolo, tudo tem protocolo e não é um número gigante. Outra palavra que está sendo muito usada é variante. Tem variante alfa, beta, gama e de outras letras gregas. Para mim, até a pandemia variante era isso:
RECADO PARA OS ANTIVACINA
Mesmo as vacinas comprovando a sua eficácia pelo mundo, um monte de gente não quer ser imunizado. Os antivacina argumentam um monte de coisas, desde a liberdade individual até a possibilidade de as vacinas implantarem chips no corpo ou fazer a pessoa virar jacaré. O que eu não entendo nessa galera que é contra a ciência é porque a lógica das vacinas não vale para tudo. Se você é um negacionista que não quer tomar vacina, por que continua a usar…
Óculos – Você sabe como são produzidas as lentes? Quem te garante que o produtor não é um comunista que quer fazer você enxergar o que ele quer? Além disso, a possibilidade de as armações dos óculos tenham escondido um chip para produzir imagens falsas é enorme. Sema falar que a palavra já traz embutida a sua ideia diabólica: armação! Eu se fosse vocês, não usava óculos.
Remédios – Não toma vacina e continua tomando remédios? Para onde foi a sua coerência? Você sabe onde e como foram fabricados os remédios que o médico te prescreveu? Eles podem fazer muito mais mal do que uma vacina. Um remédio capaz de curar uma dor de cabeça, pode fazer qualquer coisa com a cabeça da pessoa! Eu se fosse vocês, não tomava remédios.
Carros – Os carros de hoje em dia não têm só componentes mecânicos, mas também centenas de chips. E você sabe o que esses chips fazem? E se algum deles consegue acessar o seu cérebro e começa a te manipular assim que você acelera o carro? Eu se fosse vocês, não andava de carro.
GPS – Como é que você, um antivacina, vai confiar em um sistema que é baseado no fato de que a terra não é plana? Pois um GPS globalista, comunista e mal-intencionado pode te levar a lugares que você não quer ir. Pode te levar até para a China sem você perceber! Eu se fosse vocês, não usava GPS.
Por que quem não toma vacina por opção continua a usar celular, computador, avião, internet, Twitter, Tiktok, fone de ouvido? Que gente mais manipulável!
A SÍNDROME DO “DAQUI A TRÊS MESES”
Além de todos os males que a pandemia nos tem causado, uma outra doença tem acometido os brasileiros, é a Síndrome do “daqui a três meses”.
Assim que a pandemia começou, todos nos assustamos, mas nos convencemos de que aquela estranha doença duraria pouco e “daqui a três meses” tudo voltaria ao normal.
Passaram três meses e a pandemia só piorava, tudo fechado, hospitais enchendo, mas avaliamos que a pandemia logo passaria porque já estavam começando a pesquisar vacinas e “daqui a três meses” elas ficariam prontas.
Passaram mais três meses e descobrimos que vacina é um troço complicado, tem que testar, tem fase um, fase dois, fase três e depois tem que ter uma tal de eficácia, ou seja, as vacinas ainda iam demorar, mas algumas delas estavam sendo testadas no Brasil e assim que os testes terminassem, “daqui a três meses”…
Passaram três meses, as vacinas foram aprovadas e começaram a ser aplicadas em alguns países, mas o presidente do Brasil não acreditava nelas e não comprou as vacinas, portanto, aqui ainda ia demorar para começar a vacinação. Mas soubemos que o Brasil podia produzir vacinas e “daqui a três meses” elas iam ficar prontas.
Passaram três meses e descobrimos que a gente podia fazer vacinas sim, mas dependia de um tal de IFA, que era feito na China e o nosso presidente, com a ajuda do seu chanceler era contra a China, portanto o tal IFA não veio. E pior, a pandemia gosta de países que flertam com o pandemônio e cresceu muito.
Agora estamos aqui a procura de alguma coisa para acreditar que “daqui a três meses” estaremos numa situação melhor.
Ou então tentar achar uma vacina para curar a Síndrome do “daqui a três meses”.
EU AJUDO ELE
Quando eu tinha uns vinte e poucos anos, viajando por uma praia do Nordeste de mochila nas costas, entrei num bar e comecei a conversar com dois caras que estavam por ali. O papo estava animado, os caras eram gente boa e então, num dado instante da conversa, eu perguntei a um deles:
– Me diz uma coisa: o que você faz?
– Como assim? – Ele não entendeu.
– É, o que você faz, você trabalha? Estuda?
– Ah! Eu não faço nada não. – O sujeito respondeu na maior tranquilidade.
– Nada ? – Então perguntei ao outro cara. – E você?
– Eu ajudo ele!
Gostei da sinceridade do primeiro e, principalmente, da resposta do segundo.
O tempo passou e outro dia eu estava batendo papo com uns amigos das antigas pelas redes sociais, caras do audiovisual, assim como eu. A gente não se falava há muito tempo e a pandemia nos aproximou. No meio da conversa eu perguntei a um deles:
– Me diz uma coisa: O que você está fazendo?
– Seriados e literatura.
– Que maneiro ! – Me interessei pela atividade do cara e quis ter informações mais específicas. Perguntei:
– E que projetos você está fazendo nessas áreas?
– Vejo seriados e leio livros!
– E você? – Outro amigo me perguntou.
Lembrei-me imediatamente da resposta que recebi tantos anos atrás e respondi, na lata:
– Eu ajudo ele!
CRIANDO LIMO
A Covid botou a gente em casa. Já se vão oito meses que não faço porra nenhuma a não ser ler livros e ver séries. Então, com tanto tempo criando limo em casa, eu fico me segurando para não sair para a rua, sair para fazer qualquer coisa. Quero continuar de quarentena, mas confesso que as vezes tenho tanta vontade de sair de casa, tanta ânsia de ver gente, que me dá até saudades de coisas que sempre odiei. As vezes me pego com vontade de:
– Ir a um show de uma dupla sertaneja, qualquer uma, nem precisa fazer sucesso, nem que seja com máscara nos ouvidos.
– Me aglomerar num bar para ver um jogo de futebol de um time que não é o meu, pode ser até jogo do Flamengo, mesmo com toda a urticária que isso vai me dar.
– Ir a um restaurante para comer buxada de bode com jiló ou encarar um sarapatel.
– Ir a um bar lotado para beber licor de menta ou tomar um porre de catuaba.
– Ai que saudade que estou de uma reunião de condomínio presencial!
– Receber cotoveladas no Aniversário dos supermercados Guanabara.
– Sair para ver um jogo de beisebol, esporte que não entendo, nem quero entender.
– Mesmo tendo filhos já adultos, ir a uma festinha de criança com animadores muito animados.
Mas como sou precavido, vou continuar de quarentena e deixar essas roubadas para depois, quem sabe na próxima pandemia.
A VIDA NA PANDEMIA
MEU CABELO NA PANDEMIA
Não consegui cortar o cabelo na pandemia. Mas , em compensação, criei vários estilos…
1- Einstein
2- Palhaço Bozo
3- Trump
4- Guga Chacra
O MUNDO PÓS-PANDEMIA
E aí rolam uma porção de debates discutindo o que vai mudar com a pandemia, como vai ser o mundo pós-corona. O mundo vai mudar? Vamos ser mais solidários? E se mudar, vai mudar para melhor ou para pior? Vai ser a mesma merda ou uma merda diferente? E eu fico escutando os intelectuais, artistas, políticos, jornalistas fazendo as suas previsões e me lembro das previsões que os comentaristas esportivos fazem no início dos campeonatos, das previsões que os analistas políticos mandam quando começam as eleições, me lembro dos cadernos de cultura tentando adivinhar quais serão as tendências musicais que vão bombar no ano e , depois de lembrar de todos esses profetas que nunca acertaram nenhum palpite, concluo que ninguém sabe o que vai acontecer depois da pandemia! Ninguém sabe de nada! Mas debater sobre isso não deixa de ser um bom passatempo.
EU FUI DA INTENDÊNCIA
O ministro interino da saúde é um general do serviço de Intendência. Para quem não sabe os oficiais do exército podem ser da artilharia, da cavalaria, da infantaria, da engenharia e da intendência, que é a responsável pelos suprimentos. Por que eu sei disso? Porque quando eu tinha 18 anos, eu dancei, como se dizia na época, e servi o exército. Servi no quartel do CPOR, em São Cristovão. No CPOR você não é soldado, é chamado de aluno e quando sai está apto a ser um oficial da reserva. E depois de uns 3 meses lá, aprendendo a atirar, marchar e essas coisas que se faz na tropa, a gente tinha que optar por uma das armas ou serviços. Eu optei pela Intendência. E agora que vi que o general interino é de Intendência, me vieram algumas lembranças, entre elas um pedacinho do Hino da Intendência, que começava assim:
Eu sou a intendência
Cuja nobre missão
É suprir, transportar,
Dar à tropa assistência.
Relembrando esses versos me vêm 3 questões:
1- Pela letra do hino, podemos ver que tratar assuntos de saúde não é uma das nobres missões da Intendência. A única palavra mais ou menos ligada a área da saúde é assistência, que era como a minha avó chamava as ambulâncias.
2- O Brasil não entrou em muitas guerras em sua história, mas em qual delas as tropas foram comandadas por um interino?
3- Que neurônio é esse, que podendo guardar tanta coisa, lembrou dessa letra?
Obs – Na imagem lá em cima , vocês podem me ver marchando numa parada em 1979. Segundo a minha mãe, que assistiu, eu era o único que estava marchando no passo certo.