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MINHA HISTÓRIA INFORMÁTICA

Eu me lembro da primeira vez que usei um computador . Foi na faculdade , em 1978 eu acho. Não existia essa parada de computador pessoal. A gente usava o mainframe da universidade, que era um troço gigante, provavelmente com um processador menor que um iphone. Tinha que se perfurar os cartões numas máquinas e depois a gente pegava a pilha de cartões e entrava na fila da leitora de cartões. Tela? Pra que, pra ver TV? Não tinha isso não, o resultado saía impresso. E a fila para pegar o seu resultado na impressora era grande também.
Me lembro da primeira vez que usei um computador de mesa. Esse já tinha tela. A dica que recebi foi: “quando inserir o disquete, não esquece de digitar control C, hein!” A gente dava comandos na tela, não existia Windows e o mouse mais conhecido ainda era o Mickey. O editor de textos que eu usava se chamava Wordstar. Não tinha versão nacional, tinha uma adaptação. Então para se colocar acentos era preciso digitar control alguma coisa.
Eu me lembro da primeira vez que acessei a internet. Deve ter sido em 1993 ou 1994. Foi um momento marcante, tão importante que me recordo direitinho do local em que estava. Eu segui as instruções que alguém me deu. A gente então ouvia o barulho que acontecia quando se acessava a internet. Os mais antigos lembram, o som era bem típico: Rrrrrrr shhhhhh timmmmm… E então, depois de um ou dois minutos de barulho, aparecia uma tela bem tosca, onde, seguindo ainda as instruções digitei o endereço do museu do Louvre e… abracadabra: apareceu o site do museu! Cliquei num quadro e ele apareceu na tela. Fiquei impressionado, maravilhado! Eu estava em contato direto com o Louvre! Vi uns três ou quatro quadros e então… e então… pois é… o que fazer? Não tinha a menor ideia. Naquele tempo não havia Google ou coisas parecidas , então meu encantamento foi cedendo e eu saí do computador.
Me lembro também do primeiro celular que usei. A minha mulher estava grávida e eu peguei um celular emprestado de um amigo para ela poder me avisar quando chegasse a hora. Naquele tempo não era qualquer um que tinha celular, e o meu amigo foi legal e me emprestou o trambolho que pesava mais de um quilo e não cabia no bolso. O ano foi 1994, e já existiam celulares no Brasil, mas acho que só começaram a funcionar muitos anos depois.
Essa minha história informática me voltou porque outro dia me fiz a seguinte pergunta: Como é que eu fiquei tanto tempo da minha vida sem internet?
Essa pergunta surgiu depois que passei uma tarde inteira sem internet aqui em casa. Estranhamente nada muito grave aconteceu. Fiquei um tempo sem dancinhas no Tiktok, sem tretas idiotas no Twitter, sem textões (como esse) no Facebook, sem publis de celebridades no Instagram. E , incrivelmente sobrevivi a tudo isso. Foi uma linda história de superação.

O VALOR DO BLOCK

O block nas redes sociais sempre foi muito bem-vindo. Às vezes não há solução melhor a se tomar a não ser despachar de vez a mala de sua timeline com um block em sua cara.
Em algumas ocasiões você ainda tenta manter uma conversa civilizada com uns pentelhos negacionistas nas redes sociais, mas com certos caras é impossível, não se consegue nada além de aumentar a agressividade da mala sem alça. Então, depois de algum tempo, quando você finalmente se convence que seus argumentos não são tão geniais a ponto de fazer o sujeito mudar de opinião, a solução que se impõe é mesmo bloquear a figura, que, como mágica, some de sua timeline. Nestes momentos o block no Face ou no twitter pode ser libertador, em todos os sentidos.
Foi o que fiz com um cara, bloqueei ele em todas as redes sociais, mas o problema é que que eu conhecia o sujeito fora da internet. E , pior, ele morava perto de mim. Não demorou muito e nos encontramos quando fiz algo que venho fazendo muito pouco há mais de um ano: saí na rua.
– Você me bloqueou! – Foi a frase do cara que serviu de cumprimento.
– É verdade. Foi mal. Isso acontece…
– Não acontece não. Isso é muito grave. Você me tirou do seu círculo de amizades.
– Só no Twitter.
– No Facebook, no Insta e Whatsapp também!
– É… Mas é que a gente pensa de maneira muito diferente e eu não estava curtindo muito as suas postagens.
– Precisava Bloquear?
– Mas você fazia comentários absurdos nas minhas postagens!
– Qual é o problema? Não pode discordar de você? Tu é de vidro, quebra se não concordam contigo?
Resultado: Discutimos em plena rua. Aos berros. E a discussão ainda piorou quando o sujeito tirou a máscara para que seus gritos fossem mais bem entendidos. Gritei para ele colocar a máscara de volta e como resposta ele se aproximou ainda mais e passou a falar cuspindo, só de sacanagem. Ainda tentei pegar o meu celular e ver se os gênios lá do Silicon Valley já tinham incluído uma opção de bloquear as pessoas na vida real, mas ainda não rola. Esses nerds definitivamente estão muito atrasados.

SPAM SPAM SPAM

Todo mundo recebe spams. Eu recebo um monte por dia. Eles vêm por email, sms, whatsapp, facebook, só não vem pelo Correio, mas acho que é porque devem ter extraviado.
São cacetadas de mensagens com truques que vão me ensinar como me dar bem, ganhar dinheiro e ficar milionário, desde que eu dê uma grana para que o sujeito se dê bem e fique milionário. Fora a enxurrada de promoções incríveis, sensacionais, imperdíveis. Compre, compre, compre, compre com desconto, compre com mais desconto, compre com mais desconto ainda, seu pobre!
Recebo pelo menos umas dez mensagens de “Enlarge your penis” todos os dias, além de outros spams me acusando de ter pau pequeno. Recebo várias promoções de Viagra, Cialis e outros remédios espalhando por aí que talvez eu seja broxa.
Outro dia eu recebi um spam inusitado. Vinha de um senador americano, o nome dele é John Cornyn, e ao que parece ele estava pedindo o meu voto nos Estados Unidos. Mesmo que eu morasse lá, imagina se eu votaria num cara que me acusa de ser texano e republicano! Fala sério!
Além dos spams gerais, existem os pessoais, aqueles que são voltados especialmente para você, seus personal spams. Eu recebo tantos que comecei a dividir eles por categorias:
Tem o spam tricolor. Como sou torcedor do Fluminense , entrei numa lista de tricolores. São milhares de anúncios tentando me vender a última camisa retrô do Flu, ingresso antecipado pro jogo do Fluminense em Quissamã, ou informativos do Fluminense com os últimos boatos de contratações que é claro, nunca vão se concretizar.
Tem o spam bancário, que chegam dos bancos em que tenho contas ou que já tive contas há vinte anos ou que um dia pensei em abrir uma conta. São propostas pra colocar minha grana em fundos de investimentos sensacionais e inovadores que talvez não me deixem mais rico, mas certamente deixarão o dono do banco mais bilionário do que ele já é.
Tem o spam lojista: você compra uma vez na loja e ela te retribui te enchendo de mensagens com ofertas de descontos pelo resto da vida ou lembrando que já saiu a última coleção. Ainda se fosse a coleção de figurinhas da Copa, mas é só roupa!
Tem os spams de cursos. Há algum tempo frequentei umas aulas numa dessas casas dos saberes com cursos e palestras para adultos que acham que ainda podem aprender alguma coisa. A partir daí, comecei a receber a cada hora uma proposta de um curso novo: saraus literários, encontros filosóficos, aulas incríveis em que eu finalmente vou entender alguma coisa que Nietsche escreveu, ou até mesmo como se escreve o nome deste filósofo corretamente.
Eu tento me livrar dos spams, deletá-los, tirar meu nome da lista de mensagens, bloquear o telefone, mas não adianta, os spams são muito espertos, eles são ariscos, eles são seres vivos que se adaptam a todas as adversidades e acabam sempre voltando para exercer a sua atividade preferida: encher o meu saco!

REENCONTRO

O cara encontrou o velho amigo e ficou até sem jeito de cumprimentar, mas para seu alívio, o amigo lhe deu um abraço.
– Fala, garoto!
– Beleza? – o cara retribuiu o abraço – que bom te encontrar. Eu fiquei meio preocupado, achei que você não ia falar comigo por que…
– Porque você me bloqueou no Face.
– É… Você percebeu , né?
– Claro! Quer saber? Eu também te bloqueei.
– Eu imaginei. Cara, eu mal te reconheci no face, achei que era fake. Como você é mala no face, com as suas opiniões ultra-esquerdistas e…
– Você que é um reacionário do cacete no Facebook.
– Reacionário? Tu acha mesmo que eu sou um coxinha fascista? Foi isso que você escreveu no comentário do meu post. Você me conhece, tu acha mesmo que eu sou fascista?
– Aqui ao vivo não, mas no Facebook você é muito fascista, apoia o Bolsonaro!
– Eu não apoio o Bolsonaro! De onde você tirou isso?
– Conclui, pelas suas postagens no Facebook!
– Concluiu errado. E você? Apoiando o PT, defendendo a Dilma. Você andou metido em alguma falcatrua na Petrobras? Levou algum pixuleco?
– Claro que não! Você me conhece. Você acha que eu faria isso?
– Acho que não… sei lá… pelas suas postagens no Face…
– Não me meti em nada! Nunca fui do governo.
– Bom, então foi muito bom te reencontrar aqui, fora da internet, e ver que a gente ainda pode se entender.
– Foi bom mesmo se encontrar. Só assim a gente consegue se acertar.
– Posso te dizer uma coisa: você é muita mais gente boa ao vivo.
– Você também!
– E no Face?
-Acho melhor a gente continuar bloqueando um ao outro.
Os dois se abraçaram.
– Valeu, coxinha!
– Tchau, pixuleco!