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O COERENTE INCOERENTE

Um elogio que sempre me incomodou é “coerente”.
“Fulano é um grande sujeito, sempre foi muito coerente”.
É claro que é bom uma pessoa ser coerente quando ela é honesta, boa, dedicada, solidária e mantém seus bons princípios em tudo o que faz.
Mas e se os princípios do sujeito não valem nada?
De que adianta ser coerente se as ideias e atitudes são uma merda?

Um idiota é coerente quando está fazendo algo idiota.
Um babacão é coerente quando está sendo babaca.
Um pereba é coerente quando fura a bola.
Um frangueiro é coerente quando a bola passa por sua mão de alface.
Um bandeirinha vendido é coerente quando aponta impedimento do meu time.
Um tiozão é coerente quando conta pela enésima vez a piada do pavê.
Um mala sem alça é coerente quando enche o saco de todo mundo.
Um chato cutucador é coerente quando fica cutucando sem parar.
Um político ladrão é coerente quando esconde dinheiro na cueca.
Um deputado do Centrão é coerente quando pede um ministério em troca de votos.
Um negacionista é coerente quando está passando covid por se negar a usar máscara.

Então vou logo avisando: Se quiser me elogiar, não diga que sou coerente. Eu posso achar que você está me xingando.

SPAM SPAM SPAM

Todo mundo recebe spams. Eu recebo um monte por dia. Eles vêm por email, sms, whatsapp, facebook, só não vem pelo Correio, mas acho que é porque devem ter extraviado.
São cacetadas de mensagens com truques que vão me ensinar como me dar bem, ganhar dinheiro e ficar milionário, desde que eu dê uma grana para que o sujeito se dê bem e fique milionário. Fora a enxurrada de promoções incríveis, sensacionais, imperdíveis. Compre, compre, compre, compre com desconto, compre com mais desconto, compre com mais desconto ainda, seu pobre!
Recebo pelo menos umas dez mensagens de “Enlarge your penis” todos os dias, além de outros spams me acusando de ter pau pequeno. Recebo várias promoções de Viagra, Cialis e outros remédios espalhando por aí que talvez eu seja broxa.
Outro dia eu recebi um spam inusitado. Vinha de um senador americano, o nome dele é John Cornyn, e ao que parece ele estava pedindo o meu voto nos Estados Unidos. Mesmo que eu morasse lá, imagina se eu votaria num cara que me acusa de ser texano e republicano! Fala sério!
Além dos spams gerais, existem os pessoais, aqueles que são voltados especialmente para você, seus personal spams. Eu recebo tantos que comecei a dividir eles por categorias:
Tem o spam tricolor. Como sou torcedor do Fluminense , entrei numa lista de tricolores. São milhares de anúncios tentando me vender a última camisa retrô do Flu, ingresso antecipado pro jogo do Fluminense em Quissamã, ou informativos do Fluminense com os últimos boatos de contratações que é claro, nunca vão se concretizar.
Tem o spam bancário, que chegam dos bancos em que tenho contas ou que já tive contas há vinte anos ou que um dia pensei em abrir uma conta. São propostas pra colocar minha grana em fundos de investimentos sensacionais e inovadores que talvez não me deixem mais rico, mas certamente deixarão o dono do banco mais bilionário do que ele já é.
Tem o spam lojista: você compra uma vez na loja e ela te retribui te enchendo de mensagens com ofertas de descontos pelo resto da vida ou lembrando que já saiu a última coleção. Ainda se fosse a coleção de figurinhas da Copa, mas é só roupa!
Tem os spams de cursos. Há algum tempo frequentei umas aulas numa dessas casas dos saberes com cursos e palestras para adultos que acham que ainda podem aprender alguma coisa. A partir daí, comecei a receber a cada hora uma proposta de um curso novo: saraus literários, encontros filosóficos, aulas incríveis em que eu finalmente vou entender alguma coisa que Nietsche escreveu, ou até mesmo como se escreve o nome deste filósofo corretamente.
Eu tento me livrar dos spams, deletá-los, tirar meu nome da lista de mensagens, bloquear o telefone, mas não adianta, os spams são muito espertos, eles são ariscos, eles são seres vivos que se adaptam a todas as adversidades e acabam sempre voltando para exercer a sua atividade preferida: encher o meu saco!

VOCÊ MERECE MAIS!

“Você” é um pronome de tratamento que deriva de “vossa mercê”, que depois passou pelo “vosmecê”, pelo “vancê” e finalmente chegou ao “você”. E a partir daí, o “você” ganhou o mundo e principalmente a língua do brasileiro. “Você” ficou cada vez mais popular, a ponto de tomar totalmente o lugar do “tu”.
Então por que não dar uma promoção ao “você”? Por que “você” não assume o seu real papel na língua brasileira e passa a ser pronome pessoal oficial no lugar do “tu”? Por que ainda se ensina o “eu, tu, ele, nós, vós, eles”? Que tal assumir de vez no Brasil o “Eu você ele nós vocês eles”?
Para que ainda existe o “vós”, que no Brasil só se usa como plural de vó?
Tu vais, vós vais? Tu foste, vós fostes? Tu estás brincando? Vós estais de sacanagem?
“Você” é o preferido dos brasileiros! “Você” deveria ser titular na lista dos pronomes pessoais, mas não consegue assumir o seu papel, que já está lá ocupado pelo “tu” e pelo “vós”, pronomes pessoais amparados apenas na tradição, família e propriedade. Isso é um absurdo! O “você” é um excluído, uma vítima de preconceito! “Você” sofre uma verdadeira “você-fobia”, essa é a verdade!
Fora o Tu e o Vós! Pela promoção do Você e do Vocês a pronomes pessoais!
Fora o “Eu, tu, ele!” Viva o “Eu, você, ele!”
Viva eu , viva você, viva o saci Pererê”!

O QUE EU SEI FAZER?

Fui convidado (mas não pude ir) a um show de humor de um amigo. Soube que no espetáculo, além de stand up, o meu amigo fazia um monte de outras coisas, tocava sax, cozinhava, sapateava, dançava, cantava, sei lá o que mais, o cara fazia coisa pra caramba, todas muito bem feitas.
Então fiquei pensando no assunto: o que eu sei fazer bem?
Não faço stand up. Apesar de ser humorista nunca subi num palco para fazer um show solo.
Também não toco nenhum instrumento, já tive aulas de violão, mas só sei tocar “Preta, pretinha” dos Novos Baianos, que são só dois acordes.
Não sei cozinhar, a minha aventura mais arrojada na cozinha foi fazer miojo para os meus filhos quando pequenos, ou preparar um café, na máquina de Nexpresso , é claro.
Sapatear? Fala sério! Eu já tive até aulas de dança com a Debora Colker num dos shows do Casseta e acho que foi o desafio mais complicado que ela teve na vida.
Cantar? Sim, sei cantar, já cantei em shows e até em discos, mas não levo a sério esse meu talento. Nos shows dá para o gasto e no disco foi graças a tecnologia que conserta qualquer desafinação.
Desenhar. Até levo jeito, tenho publicado uns desenhos por aqui, mas acho as ideias melhores que a realização. Quando eu era pequeno eu desenhava uns aviões maneiros, que um primo meu adorava, mas, na boa, eram toscos.
Pintar? Não.
Bordar? Hahaha.
Correr a maratona? Impossível.
Jogar futebol? Sim! Joguei bastante e joguei bem. Adorava! Mas como se pode ver pelo tempo verbal, é coisa do passado. Não jogo mais, meu joelho está fodido e minha coluna não aguenta o tranco.
Então, o que afinal de contas eu sei fazer? O que eu faço na vida, porra? Bom, eu leio livros. É isso. Mais de 60 por ano. E depois esqueço quase tudo. Poderia relê-los todos de novo que não ia fazer diferença.
Bom é isso. No meu show, onde eu mostraria tudo que sei fazer, eu entraria no palco, sentaria numa poltrona e leria um livro. Quem é que ia pagar para ver isso?

NOVO LANÇAMENTO DE CUECA!

CUECA SAMBA-LADRÃO

A cueca do corrupto moderno.

Cabe muito mais dinheiro!

Já vem com compartimentos internos para o corrupto colocar a sua bufunfa, deixando ainda mais espaço entre as nádegas!

Você não vai acreditar na quantidade de dinheiro que cabe nessa cueca!

Nos tamanhos:
G- Grana
GG- Grana do Governo
GGG- Giga Grana do Governo

Não seja otário! A cueca samba-ladrão não tem tamanho pequeno nem médio!

NA FILA DO NOVO LANÇAMENTO DA APPLE

– Você acha que a fila ainda demora muito?
– Não, acho que agora só mais uns dias.
– Beleza. Eu estou aqui desde o lançamento do Iphone do ano passado. Aproveitei e já fiquei para o próximo.
– Eu também.
– E pelo jeito um monte de gente teve a mesma ideia , né?
– É, a fila tá grande.
– Até que não, acho que só uns cinco quilômetros.
– Você sabe me dizer quais são as novidades desse novo modelo?
– Não. Quando eu entrei na fila , ainda não tinham divulgado.
– Você não consegue ver no seu iphone?
– A bateria acabou.
– A minha também.
– E não dá pra sair da fila , senão a gente pode perder o lugar, né?
– É verdade.
– Talvez esse novo modelo venha com uma bateria mais durável.
– Tomara! Porque eu estou querendo continuar aqui na fila para o lançamento do ano que vem e assim eu fico sabendo das novidades.

NOVOS TÍTULOS PARA NOVOS CURRÍCULOS

A última moda é dar uma ajeitada no currículo. Afinal quem é que vai pegar, não é mesmo?
Com tantos currículos criativos sendo produzidos por aí, surgiram também alguns novos títulos que qualquer um pode usar quando for bolar o seu.
Escolha o seu novo título:

PÔS-DOUTORADO – Quando a pessoa pôs um doutorado no currículo para dar uma reforçada.

DOUTO-ERRADO – Quando a pessoa erra “sem querer” ao dizer que fez doutorado.

MÊS-TRADO – Quando a pessoa só cursou um mês de mestrado.

LIVRE-INDECENTE– Quando diz que foi livre-docente sem ter nem passado perto da universidade citada.

DI-CITAÇÃO – Dissertação que não passa de uma enorme citação de uma dissertação já existente.

COISAS QUE NÃO FAÇO MAIS

Existem várias coisas que eu gostava de fazer, mas não faço mais. Os motivos são vários, algumas não existem mais, outras não fazem mais sentido, outras foram detonadas pela internet ou pelo advento dos celulares, e várias não faço porque não consigo mais. Então em um exercício de saudosismo, vão aí 5 coisas que gostava de fazer, mas não faço mais:

1- Jogar futebol

A pelada era uma coisa que eu adorava, era quase sagrada, mas primeiro foram as minhas costas que começaram a reclamar, ficava praticamente aleijado depois de algumas peladas. Depois foi o joelho que começou a dar bobeira e pedir arrego. A decisão de parar de jogar veio quando eu fui no ortopedista e ele falou: “Você sabe que as últimas cinco vezes que você veio aqui foi por causa dessa sua pelada?”.

2- Ir ao Maracanã

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Sempre gostei muito, mas já ia muito pouco, mesmo antes da pandemia. Primeiro o meu time não tem ajudado muito, o Fluminense já não é mais um time rico, já é time classe média baixa e as diretorias tem feito uma campanha árdua para que ele deixe de ser time grande também. Depois, porque o Maraca mudou muito, eu sou saudosista, preferia o chão duro de cimento a esse atual estádio de primeiro mundo. Também tem o fato de que hoje em dia você paga para sentar no estádio, mas todo mundo assiste ao jogo em pé, o que antigamente só se fazia na geral. Aposto que tem gente que mesmo na quarentena fica em pé quando assiste aos jogos na TV.

3- Ouvir LP

Ainda acho o long-play a melhor maneira de se ouvir música. Além da onda boa que é escutar as 12 músicas, o lado A e o lado B, ainda tem a qualidade do som e as capas maravilhosas. Os LPs para mim eram o paraíso. Mas parece que não é o que a humanidade acha. Primeiro vieram os CDs, que eu já não curti muito. Então chegou a internet, juntou LPs, CDs, discolasers, fitas cassete e o cacete a quatro, embrulhou tudo bem embrulhadinho e jogou no lixo. Agora a galerinha escuta de música em música pelo spotify ou coisa que o valha. Eu até tenho spotify, mas não é a mesma coisa. Até comprei uns LPs num sebo, mas agora já era, o estrago já está feito.

4- Ler revistas

Eu gostava muito de ler revistas. Elas eram bonitas, bem editadas e traziam um monte de novidades. Hoje em dia elas não fazem mais sentido. E como era bom ir a banca de jornal, que tinha uma variedade incrível de revistas maneiras que eu adorava ler. Hoje em dia, banca de jornal vende bala e cerveja e acho que a última vez que entrei numa a banca foi na época da Copa do mundo para comprar figurinhas.

5- Ler jornais impressos

Ainda tenho assinatura e todo dia o jornal chega Na minha porta, cheio de notícias velhas. Eu pego o jornal, sento e gasto uns 5 minutos no máximo folheando, conferindo as notícias que já sei.